A Bomba Dentro do Sistema

* por Felippão

Eu sempre olhei com muita desconfiança o que o mercado musical coloca em nossas prateleiras, virtuais ou não, há bastante tempo. Desde q eu me apaixonei deliberadamente pela música (e isso tem tempo, bota tempo nisso!), quanto mais eu conhecia do assunto, mais eu ficava a par das armadilhas q as majors nos impunha.
Então sempre q aparecia alguém mais arrumadinho, mais bonitinho, com cara de Ken da Barbie eu ficava meio preocupado. Do tipo “Hummm, mais um mauriçola pra cantar baba de quiabo no meu escutador de Jimi Hendrix...”
Depois de presenciar a ascensão e queda várias enganações do tipo Menudo, New Kids, N’Sync, Backstreet, Milli Vanilli, Gerardo (alguém se lembra do infame “Rico, Suave”), Rockwell (primo do Michael Jackson q cantava “Somebody’s Watching Me“), etc eis que me aparece o tal do John Mayer com “Daughters”.
Olhei, olhei, pensei, cocei a cabeça, olhei mais um pouco e pensei “Putz, mais um engodo”. Detalhe: só tinha visto o clip, não tinha ouvido a música porque no bar onde eu iria tocar as TVs estavam sem áudio.
Ledo engano. Tomei uma pedrada nos peitos ao pedir para aumentar o som e fui ouvindo o restante das músicas (era uma coletânea de clips – putz, o cara começou ontem e já tem “coletânea” de clipes. Eu não sei por*¨#! nenhuma mesmo).
O cara é bom! Quer dizer, o cara é muito bom! Ou seja, quebrei a cara. Para o bem!
Aí, para completar a minha bagunça mental assisti semana passada, na casa de meu amigo Lúcio Mauro, um Blue Ray do carinha chamado “Where The Light Is – John Mayer Live in Los Angeles” onde ele faz um show 3 em 1 da pesada!
Ele começa na maciota, acusticuzinho, onde está a belíssima e já mencionada “Daughters” e um clássico do Tom Petty & The Heartbreakers “Free Fallin’” além de “Neon” (que abre o set), “Stop This Train” e “In Your Atmosphere”. Muito bacaninha, naquele clima namorico-no friozinho-em-frente-da-lareira-de-um-chalé-em-Araras-bebendo-um-tinto-Português (o tinto lusitano eu roubei do Rubem Fonseca).
No segundo set, com os incríveis músicos Steve Jordan (bateria e backings) e Pino Palladino (um dos baixistas mais requisitados dos últimos 30 anos na Inglaterra e adjacências), o bontinho e nada ordinário Mayer põe fogo no palco.
Aí é q a giripoca pia e pia alto, pois apesar de ser um trio parece q tem uma banda de 50 caras no palco! É neste set q ele mostra todas as suas influências: Hendrix, Blues (em especial Stevie Ray Vaughan, que ele imita muito bem quando quer mostrar o porquê ele quando adolescente ficava 8 horas trancado no quarto tirando as músicas do cara) e Rock dos anos 70.
Com este trio ele começa o barraco com “Everyday I Have The Blues”, um clássico de BB King (ele chega a imitar com perfeição os licks – as frases tradicionais de guitarra q o Papa do Blues manda – jeito de cantar e de empunhar a guitarra), “Wait Until Tomorrow” (do Hendrix onde o caboclo de Seattle desce de verdade), “Who Did You Think I Was”, “Come When I Call”, “Good Love Is On The Way”, “Out Of My Mind”,”Vultures” e termina com um clássico do Hendrix onde nota-se claramente q ele está possuído pelo espírito guitarrero do véio James Marshall, “Bold As Love”.
Aí a festa pop/rock (mais pop, menos rock) tem começo onde as menininhas, cansadas de bater palma para um bando de músicas que não tem o menor sentido para elas (“Hendrix? É alguma marca de prancha alisadora? Blues? É para emagrecer? Ai, tô precisando tanto, migaaaaaaaaaa!!!”), começam a gritar e se espernear pelo cara.
Detalhe: 70% do público é formado por unidades de carbono femininas.
Mas vamos ao próximo set: com um bandão (literalmente) de responsa ele deita e rola com as músicas mais pop, mais comerciais digamos. Mas também com um coverzinho aqui e outro ali como “I Don't Need No Doctor” do grande Ray Charles (e que também já foi coverizada por artistas como Humble Pie e W.A.S.P.) mostrando seu vasto e excelente conhecimento musical. O set começa com seu hit, um musicaço chamado “Waiting On The World To Change”, “Slow Dancing In A Burning Room”,”Why Georgia?”, “The Heart Of Life”, a mencionada “I Don't Need No Doctor”, “Gravity”, “I Don't Trust Myself (With Loving You)”, “Belief” e “I'm Gonna Find Another You” terminando um show (e documentário também) pra ninguém botar defeito.
Ele utiliza seu talento não só para mostrar seu trabalho, mas também para mostrar as menininhas mais novas q existe música boa como Hendrix, Blues, Classic Rock, etc, resgatar a boa música, tão afastada da mídia por American Idols, 50cents, ganânica e imediatismo.
Por isso eu dei o título ao texto de “A Bomba Dentro do Sistema”, pois é isso mesmo o que ele é.
E isso não é para qq um, believe me!
O cara é bonito (olha, vamos parar com esse negócio q homem só pode falar q o outro é “boa pinta”. Isso é pra quem tem dúvida sobre sua sexualidade. A minha está muito bem resolvida, obrigado. O cara é bonito mesmo, porra, vou fazer o quê?), toca uma guitarra da melhor, compõe, tem excelentes referências musicais, é acompanhando de uma banda formada pela nata da música mundial e ainda por cima dava uns pegas na Jennifer Aniston.
Romário é o cacete! John Mayer é o cara!
Até a próxima!

Felippão é produtor musical, guitarrista das bandas Mojo Society, Balaco Doido, Pachanga, Salgueirense e Tijucano.